Quando pensamos nas grandes vias expressas do Rio de Janeiro, os nomes que vêm à mente são a Linha Amarela e a Linha Vermelha — artérias que cortam a cidade e fazem parte da rotina de quem se desloca pela capital fluminense. Mas poucas pessoas se lembram da Linha Lilás, uma das primeiras vias expressas concebidas pelo Plano Doxiadis, um ousado projeto urbanístico dos anos 1960.

O plano policromático de 1965


Em 1965, o arquiteto grego Constantino Doxiadis elaborou, a pedido do governo estadual, um plano diretor para o crescimento da cidade. O projeto ficou conhecido como Plano Policolor, porque previa a construção de grandes vias expressas identificadas por cores: Vermelha, Azul, Marrom, Verde, Amarela e Lilás. A ideia era integrar diferentes regiões por meio de túneis, viadutos e pistas rápidas, acompanhadas por linhas de metrô e outras soluções de transporte.


No entanto, o plano nunca foi executado em sua totalidade. Apenas algumas partes saíram do papel: a Linha Lilás foi a primeira a ser implementada, ligando a região de Laranjeiras ao Santo Cristo. Anos depois, trechos da Linha Verde foram aproveitados em obras viárias, e somente décadas mais tarde surgiram a Linha Vermelha e a Linha Amarela como as conhecemos hoje.

O destino das cores que ficaram no papel

As outras linhas coloridas — Marrom e Azul — não avançaram. A Linha Marrom, que conectaria a Zona Sul à Zona Oeste passando por dez bairros, nunca foi construída devido aos altos custos de implementação e à complexidade de desapropriações. Já a Linha Azul, concebida para ligar o Recreio dos Bandeirantes a Duque de Caxias, só ganhou vida de forma parcial décadas mais tarde, quando o BRT Transcarioca foi inaugurado em 2014, utilizando parte do traçado pensado na década de 1960.

A Linha Verde, planejada para ligar a Rodovia Presidente Dutra à Gávea passando pela Tijuca, enfrentou tantos entraves de desapropriação que acabou abandonada quase por completo. Ainda assim, alguns de seus túneis e viadutos foram incorporados a obras posteriores, mostrando como o Plano Doxiadis deixou legados pontuais mesmo sem ter sido totalmente realizado.

A Linha Lilás hoje



A Linha Lilás permanece um capítulo curioso da história do urbanismo carioca. Embora tenha sido construída com o objetivo de melhorar a fluidez do trânsito entre as zonas Sul e Central, ela acabou eclipsada por vias posteriores. Seu traçado liga o Viaduto do Gasômetro, na região portuária, aos túneis que conduzem ao bairro de Laranjeiras, servindo de alternativa para quem deseja evitar a orla do Aterro do Flamengo.

Mais de cinquenta anos após sua concepção, o Plano Doxiadis nos lembra que a cidade é um organismo vivo e que projetos ambiciosos nem sempre se concretizam como previsto. Ainda assim, conhecer essas histórias nos ajuda a entender as decisões que moldaram o Rio de Janeiro e a refletir sobre como planejar a mobilidade urbana de forma sustentável e integrada.